Por Pedro Henrique Corrêa*
As
Associações de Pós-graduandos (APGs) são os principais instrumentos de defesa e
luta dos pós-graduandos dentro da Universidade. Na prática, são como sindicatos
que podem realizar assembleias gerais, mobilizar a participação dos discentes
em atos de rua, conversar com a base nas salas de aula, montar debates, fazer
campanhas, contribuir na resolução de questões individuais relacionadas à pesquisa,
etc. Durante o Governo Bolsonaro, os pós-graduandos precisam como nunca de que
as APGs estejam vivas e organizando as lutas.
Entretanto, há universidades onde
existem APGs ou Comissões Pró-APG que agem de maneira contraditória: seus
diretores, que deveriam estar organizando as lutas defensivas e ofensivas,
parecem cansados e indispostos. Comportam-se como se o Brasil fosse uma ilha de
prosperidade e houvesse coisas mais importantes a serem feitas do que organizar
assembleias e mobilizações. Enquanto isso, crescem os ataques à educação,
ciência, e tecnologia com cortes de verba de vários tipos, congelamento do
valor e número de bolsas de estudo, destruição da previdência, entre outros.
Curiosamente – ou não –, muitas
dessas entidades estão na mão dos dois partidos que têm maioria na ANPG
(Associação Nacional de Pós-graduandos): correntes do PT e o PCdoB. Mas
estariam os diretores destas entidades abrindo mão de dirigi-las? Não, muito
pelo contrário. Não chamar assembleias, acusar opositores pelas costas, fazer
intrigas nos corredores e trocar a luta de base presencial por correntes e
debates em grupos de WhatsApp é uma estratégia de direção. “Sentar” em cima da
entidade é uma estratégia que visa impedir que assembleias massivas sejam
realizadas, que novos pós-graduandos possam entrar nas lutas e fazer suas
próprias experiências, que possam se organizar em qualquer outro lugar que não
seja em suas próprias correntes e partidos políticos.
As APGs para estes diretores traidores
são espaços para cooptação e autoconstrução das suas próprias organizações
políticas, impedindo assim qualquer perspectiva de unidade dos pós-graduandos
contra os ataques do Governo Bolsonaro. Na APG da UERJ, por exemplo, o estatuto
sumiu, eleições não são nunca realizadas e assembleias são chamadas apenas por
pressão da base – ou quando ficaria vergonhoso não convocar uma reunião. O
interessante é ver como mesmo assim a APG está atenta ao cenário político, como
começa a se movimentar perto das eleições parlamentares para pedir votos e também
quando é necessário reunir delegados para votar na chapa majoritária (PT e
PCdoB) no Congresso Nacional da ANPG.
Mas
as APGs precisam ter um novo rumo: organizar a luta em frente única pelo Fora
Bolsonaro e contra a Reforma da Previdência – luta que se une à exigência de
direitos previdenciários para os pós-graduandos. Independente da organização
política que dirige cada APG, é preciso mobilizar todos os pós-graduandos para
o combate.
Garantir o controle político sobre
qualquer entidade deve ser resultado de um processo transparente e democrático
de debate entre propostas políticas, onde os pós-graduados decidam quem eles
consideram que os representa melhor ou qual proposta será aplicada após cada
assembleia. Sabotar a entidade e a luta nos programas de pós-graduação é um
crime que protege e dá sustentação ao Governo Bolsonaro, e é isso que o PT e o
PCdoB têm feito até mesmo no parlamento, com sua proposta alternativa de
Reforma de Previdência “menos danosa”. Uma APG só chama assembleias quando não
tem medo de defender sua política abertamente.
Na UFRJ, a APG reuniu em assembleia
realizada no dia 9 de maio cerca de 300 pessoas, organizando o debate em torno
da luta contra os ataques de Bolsonaro e mobilizando a participação na Greve
Nacional da Educação do dia 15 de maio e na Greve Geral do dia 14 de junho. Uma
mobilização permanente nas bases pelas direções das APGs em todo o Brasil é
fundamental para colocar abaixo o Governo Bolsonaro e todos os seus apoiadores
e sustentadores, declarados ou não-declarados, à esquerda ou à direita.
*Pedro Henrique Corrêa é doutorando
em Saúde Coletiva na UERJ, foi diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da
ANPG e constrói o MCP.